Céu
azul, o mais azul
Astro
luminoso, brilhante
O
horizonte é longo
E
na terra, nesta terra
A
guerra continua
Céu
azul, tão azul
Brilho
estonteante
E
entre as flores de brilho de óleo
Os
jovens marcham para mundos cinzentos
Para
paragens onde a bruma cega os corações
Tão
azul o céu, tão luminoso
Debaixo
a miséria
A
luta de adiar mais um dia a fome
A
batalha de escravo por mais um dia de vida
O
cinzento apático a empapar em vinho a dor de alma
O
céu tão azul é o belo
O
rosto dos velhos a saudade
As
rugas dos velhos os deltas por onde a esperança se some no mar das lágrimas
Há
saudades do céu azul luminoso entre brumas de Cassiteritas
Pelos
frios vales da Germânia luta-se e come-se todos os dias um sabor de fel
O
coração, amargo do despeito da expulsão da terra do céu azul, bate contrafeito
A
miséria da terra onde no horizonte do céu azul e o mar se casam
Vem
da cegueira que esta luz provoca
Cegueira
tingida das cataratas de fés e crenças
A
cegueira que deixa a terra aos chacais,
hienas e vampiros
Que
pela calada roubam campos e esperanças
Sugam
sangue e dilaceram sonhos
Debaixo
deste céu azul de luz
A
terra é um deserto de almas
A
casa de ensinar as letras é casebre em escombros de portas e janelas arrombadas
Debaixo
deste céu azul de luz brilhante
Crianças
riem menos
Cada
dia menos crianças
Os
chicotes dos novos feitores
A
ambição dos novos senhores
Não
deixam que nasçam crianças
Não
deixam que mulheres sejam mães
Não
autorizam que homens sejam pais
Afinal,
o riso brilhante do céu azul luminoso
Que
se espraia no deleite do mar azul
E
das flores das cintilantes cores de óleo
Escarnece
no seu belo, desta terra em guerra
Onde
os velhos vertem penas e saudades
Os
novos se esfumam em brumas distantes
E
as crianças não nascem mais.
Vicente de Sá, 16 de Maio de 2015