domingo, 17 de maio de 2015

A TERRA DO CÉU AZUL

Céu azul, o mais azul
Astro luminoso, brilhante
O horizonte é longo
E na terra, nesta terra
A guerra continua

Céu azul, tão azul
Brilho estonteante
E entre as flores de brilho de óleo
Os jovens marcham para mundos cinzentos
Para paragens onde a bruma cega os corações

Tão azul o céu, tão luminoso
Debaixo a miséria
A luta de adiar mais um dia a fome
A batalha de escravo por mais um dia de vida
O cinzento apático a empapar em vinho a dor de alma

O céu tão azul é o belo
O rosto dos velhos a saudade
As rugas dos velhos os deltas por onde a esperança se some no mar das lágrimas

Há saudades do céu azul luminoso entre brumas de Cassiteritas
Pelos frios vales da Germânia luta-se e come-se todos os dias um sabor de fel
O coração, amargo do despeito da expulsão da terra do céu azul, bate contrafeito

A miséria da terra onde no horizonte do céu azul e o mar se casam
Vem da cegueira que esta luz provoca
Cegueira tingida das cataratas de fés e crenças
A  cegueira que deixa a terra aos chacais, hienas e vampiros
Que pela calada roubam campos e esperanças
Sugam sangue e dilaceram sonhos

Debaixo deste céu azul de luz
A terra é um deserto de almas
A casa de ensinar as letras é casebre em escombros de portas e janelas arrombadas

Debaixo deste céu azul de luz brilhante
Crianças riem menos
Cada dia menos crianças
Os chicotes dos novos feitores
A ambição dos novos senhores
Não deixam que nasçam crianças
Não deixam que mulheres sejam mães
Não autorizam que homens sejam pais

Afinal, o riso brilhante do céu azul luminoso
Que se espraia no deleite do mar azul
E das flores das cintilantes cores de óleo
Escarnece no seu belo, desta terra em guerra
Onde os velhos vertem penas e saudades
Os novos se esfumam em brumas distantes
E as crianças não nascem mais.

Vicente de Sá, 16 de Maio de 2015