sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A UNIÃO EUROPEIA

Quarenta e nove anos de vida.
Nasci no Minho, passei a minha primeira infância no Ribatejo. Vivo há vinte e cinco anos no Alentejo.
Meu pai trabalhou vinte e tal anos em França.
As minhas primas casaram com franceses e vivem em França.
A irmã da minha ex esposa vive na Holanda, bem como o seu companheiro, holandês. Mais amigos vivem na Holanda.
Vários familiares vivem em França e em no Reino Unido, isto do que sei.
Meu irmão trabalha em Espanha.
A minha grande paixão da adolescência reside agora na Alemanha. A minha professora de canto está na Polónia. Fiz um amigo na Sardenha e tenho amigas em Itália,.conheci duas mulheres lindíssimas da Grécia, e conheci uma Turca e uma Húngara simpáticas. Adoro a cidade de Bruges e o Madurodam de Haia. Pisei o solo de Berlim e comi churrasco no campo da Polónia. Elegi a cidade de Paris e fiquei num engarrafamento em Bruxelas. Bebi copos com amigos da Ucrânia e fui a casa de uma amiga Lituânia.  Tenho amigos em Amesterdão, em Barcelona, em Paris, em Londres, Wageningen, Stetin, Wroclav e sei la´quantos cantinhos dessa Europa. Li Unamuno, Goethe, Byron, Zola, sei la… Ouvi valssas de Straus vi operas de Verdi, morri na comuna de Paris. Meu Avô foi á guerra na Flandres, esteve em La Liz. Sou admirador de Cyrano de Bergerac. Gosto dos coros Russos e do grande Tchaikowski. Cantei opera de Flotow, cantatas de Bach, oratórias de Haendel, Glorias de Vivaldi e fados de Coimbra.
Vi a Pipi das meias altas da Checoselováquia, os quatro do blindado e o seu cão e o Janozik da Polónia.
E quereis desfazer Europa?
E quereis assassinar esse sonho de paz?
E quereis destruir uma moeda única em vez de a fortalecer?
E quereis degradar essa união de vontades, de gente do futuro que se sente europeia e de uma só grande nação de pequenos todos feita?
Deixai-me dizer europeu com a mesma honra e orgulho com que me digo portugês!
A economia, as finanças, não podem matar um sonho de unidade, de pertença, colectivo de história e vivências.
Batalhamos, guerreamos, fomos reinos, condados… Somos línguas, culturas mas de almas comuns num recanto de terra entre a Ásia o Mediterrâneo e o Atlântico. Definimos nos tempos uma referência universal.
Sejamos de facto a Europa.
Vamos fazer isto em paz, cordialidade, respeito e alegria.
A UNIÂO EUROPEIA!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

OS SONHOS DAS GERAÇÕES

Vi gerações condenadas á rabiça do arado, á enxada, á monda, á ceifa pelo salazarento Estado Novo! “Vindima” do Torga bem o mostra, e mais umas quantas obras da literatura portuguesa.
Gerações hipotecadas!
O meu avo foi abandonado pela primeira república nos campos da Flandres como tantos o corpo expedicionário português.
Geração hipotecada?
A geração dos meus pais foi condenada á guerra colonial e á emigração.
Pelo menos mais duas gerações perdidas.
A minha geração foi condenada ás transformações da revolução de 74. Destruição do sistema de ensino sem que ganhos tenham ocorrido com os novos modelos. Modelos em que, durante décadas, vimos reformas atrás de reformas e para intercalar vieram mais reforma, sem nunca se construir um modelo durável.
A luta entre a escola e o trabalho, entre ser um estudante teso e um operário da construção civil com uns tostões no bolso mas que podia pensar em constituir família (no fundo o objectivo mais básico do ser biológico mas com uma força tremenda). Quem vence?
Geração hipotecada?
Fiz a estreia do ensino secundário e a sua reformulação. Desisti da escola, nada consegui.
Fui ao nocturno, dito recorrente, vivi uma nova reforma.
Fui dos últimos "ad oc" e provei que tinha conhecimentos para entrar numa universidade. Mas nova reforma me foi oferecida e mandaram-me para pré-bolonha.
Mas a minha avançada idade e não ter paizinhos ricos, nem quaisquer formas de subsistência que não fosse o trabalho, e não sendo funcionário público num daqueles lugares que me dão todas as prorrogativas do estatuto de trabalhador estudante, acabaram por me lançar na aldrabice economicista de Bolonha.
Não, não terminei o curso! O aumento do valor de propinas implementado por aqueles que fizeram o curso ao preço da uva mijona impediu-me de pagar e sustentar o “luxo” de frequentar o ensino superior aos quarenta e tal anos. De legitimar de forma oficial apenas, nada mais, nem reivindicando um emprego, apenas querendo a creditação como licenciado da capacidades que de facto possuo e em que acredito!
Hipoteca de gerações?
Eis alguém com diversas aptidões, competências e saberes, mas sem nenhuma habilitação oficial.
Desempregado!
Ver corjas de imbecis a reclamar!
Sim!
Ver gerações hipotecadas de licenciados analfabetos a quem o exercício de pensamento é um esforço sobre-humano porque as quotas e os interesses políticos do momento tinham que exibir sucessos num pais de analfabetismo funcional crónico!
Ver gerações de outros com capacidades pensantes que acabam no mesmo barco mas que não são capazes de ser yes man’s.
Ver também gerações de outros a quem a fortuna condenou ao trabalho que castiga o corpo, indefesos perante patrões despóticos apadrinhados pelos regimes capitalistas e neoliberais as quem o único objectivo é o grande lucro e não a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Ver também aquelas gerações ou aqueles que em cada geração ficaram no limbo da incompreensão colectiva porque não são carne nem peixe mas que tinham um sonho.
Vitimas de todas as gerações, renegados de todas as gerações, esquecidos de todas as gerações, uni-vos num diálogo dos insatisfeitos, dos abandonados e esquecidos, dos que deixaram morrer os seus sonhos às mãos da mísera necessidade de sobrevivência de ter que conviver com um mundo em que uns levam tudo e outros ficam com migalhas!
Cada sonho que em cada geração morreu é de certeza um passo a menos que a humanidade avançou!